domingo, 31 de janeiro de 2010

A HISTÓRIA DA MÁRTIR POPULAR

     Há 109 anos, exatamente, uma jovem era submetida ao horror de perder a vida, lutando para não ser ultrajada. Morreu simplesmente para se tornar elemento vibrante no imaginário popular. Talvez a maioria dos belenenses não saiba precisamente como surgiu o mito de Severa Romana, mas uma coisa é certa: nem mesmo o decurso do tempo conseguiu apagar a chama desta enigmática e inquietante figura.

     A honra era um elemento profundo na sociedade brasileira. Curiosamente, uma boa parte dos crimes era passional, relacionados à família. Casos de adultério ou mesmo ofensas morais a alguém era algo passível de morte.
 
     Severa Romana foi testemunha de fidelidade à vida conjugal, era filha de imigrantes italianos de origem humilde, partiu de sua terra, junto com seu marido, à Belém do Grão-Pará, em busca de uma vida melhor para eles e garantir o futuro do filho que viria a nascer. Ao chegar, conheceu a Senhora Joana Gadelha que lhes ofereceu um quartinho em seu humilde barraco para acomodá-los, e os mesmos pagavam um preço módico pelo aluguel. O barraco localizava-se entre os números 513 e 521, da Rua João Balbi, entre a Alcindo Cacela e 14 de Março, propriedade da comadre Joana Gadelha. O terreno atualmente é ocupado pelo Edifício Antônio Júnior.

     Severa, aos 17 anos, casou-se com um jovem, também de origem modesta, o soldado Pedro Cavalcante de Oliveira, do 15° Batalhão de Infantaria. Sua mãe era lavadeira, tendo como freguesas as alunas do Colégio Santo Antônio, dirigido pelas irmãs Dorotéia. Ao longo de sua infância e adolescência, Severa era transportadora dessa roupa e foi graças ao contato com as freiras que aprendeu a ler e escrever, norteada pelos ditames da fé católica. Uma de suas mestras foi Madre Estefânia Castro, falecida aos 97 anos de idade, no ano de 1959. A religiosa é apontada como uma das principais responsáveis por ter transmitido à futura milagreira a importância da fidelidade, entre os deveres conjugais.

     Após dois anos de casamento, Severa Romana engravida. Estava no sétimo mês de gestação, quando o marido a apresenta ao Cabo Antônio Ferreira dos Santos, que se encontrava em Belém, transferido do 35° Batalhão de Infantaria do Ceará. O casal decide ajudá-lo, fornecendo refeições e roupa lavada ao militar, mediante módico pagamento.

     Antonio Ferreira não tardou em ficar fascinado com a beleza da esposa de seu amigo. Na noite do dia 02 de julho de 1900, sabendo que o soldado Pedro ficaria de sentinela no quartel, o cabo seguiu para casa em que estava sendo hospedado sobre o pretexto de jantar mais cedo. Logo após ter sido servida a refeição, investiu contra Severa, tentando possuí-la à força. Diante da veemente recusa da jovem, o militar muniu-se de uma navalha e feriu-a mortalmente.
 
     A notícia do crime espalhou-se rapidamente pela cidade, deixando os moradores estarrecidos como nunca antes. A vítima imediatamente passou a ser reverenciada pela população como “mártir da fidelidade matrimonial”.

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